5 descobertas que levaram Claudia Goldin a ganhar o Nobel de Economia

A terceira mulher a receber o Prêmio Nobel de Economia estuda principalmente a participação das mulheres no mercado de trabalho e a equidade entre casais

A economista norte-americana Claudia Goldin foi reconhecida com o Prêmio Nobel de Economia na última segunda-feira (9) por suas contribuições na pesquisa sobre a mulher no mercado de trabalho – ela receberá quase US$ 1 milhão pela premiação.

Ela é professora da Universidade de Harvard – a primeira mulher a assumir o posto de professora titular da faculdade de economia em 1990 -, tem PhD em economia pela Universidade de Chicago e é formada na mesma área pela Universidade de Cornell, além de ser codiretora do Grupo de Estudos de Gênero na Economia do NBER (sigla em inglês de Bureau Nacional de Pesquisa Econômica National).

Por que a mentoria acelera as carreiras de mulheres


Na área da economia do trabalho, Goldin estuda dois temas principais: a participação feminina na força de trabalho e a economia do casal, com foco em como a organização do núcleo familiar influencia na desigualdade de gênero no trabalho. “A disparidade salarial entre gêneros diminuiu um pouco nas últimas duas décadas, mas não tanto quanto antes”, disse a economista em entrevista à Forbes sobre a equidade de gênero no mercado de trabalho.

Veja as cinco principais descobertas da economista ao longo de sua carreira que lhe renderam o Prêmio Nobel:

  1. Disponibilidade incessante das mulheres para a família as prejudica no trabalho
    O “greedy work” – trabalho ganancioso, em tradução livre –, que é um emprego que traz recompensas a funcionários sempre disponíveis, é um dos responsáveis pela desigualdade de gênero no contexto profissional. Ou seja, o funcionário que está disposto a trabalhar a qualquer hora – à noite, nos fins de semana, nas férias e fica de plantão no escritório – recebe as maiores recompensas.

Quando essas recompensas são desproporcionais ao tempo gasto – que pode até significar que, dobrando a jornada, os ganhos crescem na mesma proporção, ou até mais –, aqueles que não conseguem aumentar suas horas de trabalho ou estar disponíveis fora do horário comercial acabam prejudicados. Como mulheres são as mais responsáveis pelo trabalho doméstico e por responsabilidades familiares, segundo Goldin elas acabam recebendo menos de seus empregadores e tendo suas carreiras atrasadas.

  1. A desigualdade no mercado de trabalho passa a afetar mais as mulheres alguns anos depois de terem o primeiro filho
    O mais recente estudo de Claudia Goldin mostra que a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta de forma mais significativa após o nascimento do primeiro filho, e que esse evento também muda como elas guiam suas carreiras. Quem é mãe geralmente reduz sua jornada de trabalho, tira licença após o nascimento dos filhos ou muda para empregos com menos demanda e maior flexibilidade. Isto é, elas investem em trajetórias e empregadores que prejudicam menos funcionários que decidem tirar licenças do trabalho. Essa relevante mudança de trajetória após terem um primeiro filho explica o por que das mulheres sofrem mais danos às suas carreiras por pelo menos uma década depois de darem à luz à primeira criança.
  1. “O poder da pílula”: o anticoncepcional teve um importante papel para mulheres desenvolverem suas carreiras
    Como uma historiadora da economia do trabalho, Goldin concluiu, em suas pesquisas, que a criação e oferta da pílula anticoncepcional foi fundamental para mulheres adquirirem formações cada vez mais avançadas e experiência profissional, deixando a criação de uma família para depois. Embora tenha sido aprovado para comercialização pela FDA (Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA) em 1960, a pílula só ficou amplamente disponível para as norte-americanas solteiras nos últimos anos desta década. Dados analisados no relatório de Goldin mostram que a parcela de mulheres na graduação aumentou de 10% em 1970 para para 36% em 1980, além das estudantes universitárias se casarem mais tarde – com menos de 30% nascidas em 1957 se casando antes dos 23, enquanto a porcentagem é de quase 50% para aquelas de 1950.
  2. Desenvolvimento econômico não significou uma maior participação feminina na força de trabalho nos últimos 200 anos
    A economista conclui, com uma das suas mais notórias descobertas que foi publicada no livro “Understanding the Gender Gap” (Entendendo a Desigualdade de Gênero, em tradução livre), que o desenvolvimento econômico global não levou a uma maior parcela feminina ocupando postos de trabalho remunerados e, muito menos, a uma diminuição de desigualdade salarial de gênero. Números que a proporção de mulheres que trabalham no século 18 é semelhante àquela do final do século 20, diminuindo no século 19 com a industrialização, que tornou mais difícil que as mulheres trabalhem de casa. Essa porcentagem só passou a crescer com a ampla oferta da pílula anticoncepcional no fim dos anos 1960, já que mulheres passaram a conseguir planejar suas formações com ter uma vida profissional e construir uma família.

Ao mesmo tempo, seguindo essa lógica, a pesquisa de Goldin também descobriu que a diferença salarial entre homens e mulheres era menor durante a revolução industrial (1820 e 1850), com uma alta demanda das fábricas por trabalhadores, do que entre 1930 e 1980, quando ter uma carreira que não interrompida por gravidez passou a ser mais valorizado pelo mercado. A pesquisadora ainda mostra, em 2010, que a redução da jornada de trabalho por causa da maternidade é um dos principais fatores da desigualdade salarial de gênero.

  1. O trabalho flexível pode ser uma arma para a equidade de gênero no trabalho
    Pela disponibilidade para o trabalho ser um dos principais elementos valorizados pelos empregadores, aqueles que têm tal flexibilidade são pagos desproporcionalmente mais do que quem não consegue trabalhar fora do horário comercial. Ou seja, a oferta de flexibilidade pelas empresas aos seus funcionários pode gerar menos penalidades às mulheres que precisam tirar tempo do trabalho para lidar com a família e estimular homens a também assumirem papéis de cuidado.

Entretanto, Goldin reconhece que as empresas têm que investir na cultura organizacional para oferecer flexibilidade aos seus funcionários – embora o desenvolvimento tecnológico e a transformação dos modelos de trabalho durante a pandemia tenham estimulado a flexibilidade – e muitas não estão dispostas a fazer isso.

“Se você consegue fazer uma reunião de negócios com um cliente de Tóquio ou Pequim sem pegar um avião, o trabalhador que precisa estar à noite em casa pode fazer isso – e a pessoa com essa necessidade é, na maioria das vezes, uma mulher”, disse a economista em entrevista para a Harvard Business Review. “O número de horas trabalhadas continua o mesmo, mas o funcionário tem mais controle sobre o seu tempo livre, como aqueles nos quais coloca o filho para dormir ou tem jantar com a família”.

Fonte: Forbes Mulher – Economia

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