Luisa Aranha: Em entrevista à Revista Conecta, ela conta os detalhes de sua carreira e de onde vem a inspiração para escrever dramas contemporâneos

Lu Aranha é escritora independente, professora, jornalista e blogueira. Publicou mais de 35 títulos, entre dramas, comédias românticas, eróticos, antologias e romances contemporâneos, todos em formato impresso e digital. Semifinalista do Prêmio Sesc de Literatura em 2017, a escritora é especializada em literatura de entretenimento e autopublicação.

Desde 2016, Lu publica seus livros na Amazon, e este ano concorre ao Prêmio Kindle de Literatura com seu último romance, Eu era a sua falta, lançado em agosto. 

(RC) Quando você deu início a carreira de escritora?

(LA) Eu não sei definir exatamente o momento que comecei a escrever, porque desde os 10 anos tenho diários com narrativas do que acontecia em minha vida. A primeira narrativa longa, escrevi em 1993, com 13 anos, para um projeto da escola. Infelizmente ela foi escrita à mão em um caderno e se perdeu com o tempo. Em 1998 tive um primeiro blog onde publicava alguns contos de autoficção. Mas foi em 2010 que lancei o primeiro romance.

(RC) Quais são os seus autores favoritos e como eles influenciam na sua maneira de escrever?

(LA) Gabriel Garcia Marques e Marcelo Rubens Paiva com certeza me influenciaram muito no início da escrita. Depois de ler Feliz ano velho, do Marcelo, vi que era possível escrever como gostava. Já o Gabo, é um amor eterno como seus Cem Anos de Solidão, meu livro de cabeceira. Hoje tenho mais influências femininas: Annie Ernaux, Júlia Lopes de Almeida, Marise Condé, Margareth Atwwod.

(RC) Você é autora de vários livros em gêneros diferentes, como é transitar por tantos estilos?

(LA) Prefiro dizer que escrevo histórias. Não me apego muito ao gênero, mas sobre o que quero contar. Do erótico ao policial, sendo comédia ou drama, o que me importa mais é o enredo. Mas é difícil transitar por gêneros com públicos tão distintos. Para o pessoal do entretenimento eu sou algo mais “acadêmico”, e para a academia e sua arrogância, eu sou nada. Então eu não me encaixo em panelinha nenhuma e fico, muitas vezes, perdida, nesse meio.

(RC) De onde vem a inspiração para as suas histórias?

(LA) As inspirações vem dos lugares mais variados: da bunda de um amigo andando na praia (é o caso de Profano), como das manchetes de jornais (Olhos Fechados, Filhas da Terra). Mas também vem das minhas vivências pessoais (As vantagens de ser traída e Eu era a sua falta), ou de histórias que escuto (Amor virtual).

(RC) Sabemos que assuntos como violência contra a mulher estão presentes na sua obra, por que abordar esse tema?

(LA) Eu sou de uma geração que foi criada para ser tudo: filha, mãe, esposa, trabalhadora e atingir a perfeição em todos esses quesitos, e, apesar de ter cumprindo todos esses papéis (O livro Eu Era a Sua Falta fala muito sobre isso), nunca me encaixei. E uma mulher que não se encaixa nos padrões de corpo, temperamento e submissão sofre muitas violências calada apenas por ser mulher. A violência sempre permeou a minha vida, assim como a de todas nós mulheres e acre-dito que a literatura tem um papel de retratar as angústias de seu tempo (afinal não é sobre isso a maioria dos clássicos que endeusamos até hoje?) Falar da condição de ser mulher e das diversas violências que sofremos, é uma forma de me curar, e quem sabe curar ou-tras de nós também.

(RC) Em sua obra mais recente, “Eu Era a Sua Falta”, você aborda temas complexos, como o luto e a maternidade, o que te fez escrever sobre esses assuntos?

(LA) Minhas próprias experiências de vida, tão parecidas com a de tantas outras mulheres nesses processos de entender quem se é e como quebrar ciclos de abusos.

(RC) Você está trabalhando em um novo projeto? Se sim, o que podemos esperar?

(LA) Ainda não. Tenho dois projetos na gaveta, SexRoom, uma história que volta às minhas raízes na literatura, com muito hot e mocinha nada convencional. E uma outra história de realismo mágico que se passa em uma cidade litorânea do Rio Grande do Sul, onde vivi na adolescência.

(RC) Este ano você esteve presente na Bienal do Rio, como é participar de eventos literários

tão expressivos?

(LA) A Bienal de 2023 foi também um momento de cura e resgate para mim. Importante circular entre tantos afetos do meio, receber o carinho de leitoras, o reconhecimento pelo meu trabalho. Mas também é um momento de network, de entender as tendências do mercado e abrir outras janelas. Acredito que é muito importante participarmos destes eventos, desde que a gente interaja com as pessoas.

(RC) Que mensagem final você gostaria de compartilhar com nossos leitores.

(LA) Leiam, divulguem suas leituras, compartilhem suas experiências e deem mais chance aos escritores nacionais. Existe muita coisa boa sendo produzida no Brasil, sobre as nossas realidades que não ganham destaque nas grandes vitrines. Ir na contramão das tendências gringas de mercado é uma forma de rebelião sobre tudo que nos é imposto. E autores adoram receber feedbacks!

Leia o trecho de Eu Era a Sua Falta, de Lu Aranha

“Logo ali, a passarela. A mesma que tantas vezes atravessei com ela, quando pequena de mãos dadas, adolescente de braços entrelaçados, jovem adulta abraçadas. Tantos anos, tantos verões. Eu precisava do seu colo, o mais sincero que tive na vida, e da sua mão para concluir aquele caminho. O caminho que foi o fim para ela.

Uma borboleta branca dá um rasante na minha frente. A mais velha me convence a dar uma caminhada. Pela passarela não, peço. A mais nova me abraça, ela também sente falta da madrinha. A borboleta tenta me guiar, Caramelo me puxa pela mão. Uma hora será inevitável, pondera a grande. Eu sei.

Tento evitar as lágrimas enquanto o cortejo me acompanha. É outro velório, mais um enterro. Todos os nossos planos sobre o verão, que se faz quente e abafado, todos os planos não acontecerão. É o enterro da minha vida como eu a conheci. Paro onde seu coração descansou. As flores, indicando o local, são repostas todos os dias por sua mãe. Tiro a chave do bolso e, na madeira coberta de maresia, talho minha homenagem, próxima dos nossos nomes. A borboleta branca pousa ao lado, observando a obra-prima”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias