Sofia Costa: Jane Austen: A Escritora cujo legado transcende a Escrita.

Em plena era vitoriana e na transição entre os séculos XVIII e XIX, em Inglaterra, surge uma Escritora que, através do pensamento e sentimento, e comportamento, das personagens principais femininas de toda a sua obra, promove nos séculos vindouros a valorização do perfil e do papel da mulher na sociedade, a sua emancipação na família e relação com o trabalho, e o empoderamento feminino, entre outros recursos, pela escrita.

Precisamente, a sua escrita tornando-se, mais do que o resultado inevitável de um talento pessoal, um instrumento profissional que favoreceu a sua autonomia, e um intento social que a partir da sua intervenção favoreceria a vida de todas as outras mulheres. Ela tornando-se, também por isso, uma das maiores referências de sempre na literatura e no feminismo.

Falo de Jane Austen, das suas personagens femininas e dos seus romances feministas, e do Legado que deixou na sociedade através da sua obra, em que são ilustradas as inúmeras dimensões de interesse e intervenção da própria mulher na sociedade (e não, apenas, o seu papel de dona de casa, esposa e mãe) e, com isso, a sua im-portância transversal.

Jane Austen, e o seu percurso e processo como Mulher e Escritora 3

Desde os 11 anos que Jane Austen escreveu, fosse sobre o tempo e o campo, fosse sobre a família ou si mesma. Com o passar do tempo, não só aprimorando a escrita (entre outras artes, como o piano), como amadurecendo ‘a arte da conversação’. Conversas, comentários e conteúdos textuais que, começando por incomodar os seus pais (mesmo com o ‘espaço-tempo’ familiar que lhe davam), incomodava os anciãos das vilas por onde a família passava ou onde chegou a viver, e também já da grande cidade de Londres que, antes de Austen ser editada, Jane visitava pontualmente.

Foi na Escrita, onde Jane Austen mergulhou com a maior e melhor frequência da sua alma, e onde se encontrou como Mulher, e como Pessoa e Profissional. Imersão fundamental, precisamente, para o seu bem-estar em todas estas suas dimensões de manifestação.

Ora, como consequência desta imersão e percurso na escrita, processo de investimento e aprofundamento que a salvaguardou como alma e como artista, Jane Austen atravessa o seu maior desafio como mulher e como escritora, respetivamente, confrontando a ordem hierárquica familiar e laboral instituída com novas perspetivas para o papel social da mulher, e conquistando um lugar de destaque e até de autoridade que, quer pela sua descrição como pela publicação posterior de mais obras suas, só seria reconhecida postumamente.

Assim, a sociedade em geral e a comunidade literária em especial, assistindo à sua emersão da escrita, ou à sua reafirmação e até renascimento a partir da escrita, por meio das suas personagens e enredos, títulos e obras, instrumento fulcral no seu processo de individuação como mulher e exaltação como escritora – acentuando que a mulher também precisa de ‘viver’(!), e, portanto, de emersão ou escalada evolutiva, proativa, produtiva e positiva, como ser humano – com particular reforço à ‘intuição’(!) feminina, e dimensão artística de imensas oportunidades e intensas possibilidades de manifesto para escritora e seus leitores e, também, para novos escritores e leitores.

Imersão e Emersão em Jane Austen

Com isso, podem ser considerados os termos ‘Imersão’ e ‘Emersão’ para Jane Austen, numa jornada, numa extraordinária jornada, de sequenciais e contínuas imersões na escrita para descrição e descoberta da mulher que é, e emersões da escrita para revelação da escritora em que se tornou.

Mesmo existindo aparente conflito interior de autora e personagens, mais do que não existir oposição ou dualidade entre registo de aparente fraqueza e firmeza, ou emoção e razão (ou, como ela própria o designou, de ‘‘sensibilidade e bom senso’’), ambas dimensões integrando a mesma pessoa feminina (e feminista) e impulsionado a sua profissão de escritora. Conotações, respetivamente, inerentes ao ‘papel esperado’ versus ‘perfil exaltado’ da Mulher, de todas e de cada uma das mulheres independente-mente da sua nascença ou pertença. Perspetiva em que ‘a Essência do Ser feminino’ transcende os papeis operacionais, e a ‘Experiência do Estar, Fazer e Ter no feminino’ apenas reflete características ou condicionantes de circunstância que a presença de vontade própria, capacidade e competência transversal, por si só, também pode transcender.

O Legado de Jane Austen

Assim, podendo afirmar-se que não se trata de oposição de forças entre si, de perfis e papeis opostos em si mesmos, nem de dualidade do ser, de haver duas mulheres distintas dentro de uma mesma mulher… e, sim, ‘simples e somente’, de complexidade e completude do Ser e de Ser, do Ser que se É, e de Estar, Fazer e Ter em coerência e consistência com quem se É… complexidade e completude da alma feminina em especial e da alma humana, em geral.

Por isto, Jane Austen sendo uma mulher com legado que transcende a própria escrita: um elemento propulsor tanto do empoderamento e da emancipação feminina em especial, quanto do interesse e importância que tem para a humanidade em geral o autoconhecimento, a autenticidade e a autonomia de cada Ser Humano.

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