Para além de Barbieland: rompendo a fantasia da perfeição de Barbie

A Diretora Greta Gerwig traz críticas sociais e o empoderamento feminino às telas dos cinemas

Um dos filmes mais aguardados do ano. “Barbie”, chegou às salas de cinema em julho, causando euforia nos fãs, que tinham altas expectativas. Resultado: a bilheteria mundial arrecadou aproximadamente US$ 337 milhões,sendo R$ 23 milhões só no Brasil. Após a estreia, o público ficou dividido entre quem amou e quem se frustrou com a abordagem, pois esperavam um live action que seguisse a linha de animações anteriores protagonizadas por Barbie, a boneca branca, de cabelos loiros perfeitamente alinhados, sempre feliz, independente, inteligente, multitarefas e infalível, genuinamente bondosa e empática, que foi durante décadas símbolo do estereótipo de beleza e perfeição imposto a toda uma geração.

A direção ficou a cargo de Greta Gerwig, conhecida por trazer tramas feministas como “Adoráveis Mulheres” e “Lady Bird” às telas, conduziu o filme com uma ironia afiada, desafiando o estereótipo da Barbie e lançando críticas ao machismo enraizado na narrativa que perpetuava o ideal inatingível de perfeição. O longa incisivamente retrata a construção e a retaliação de um império em torno desse conceito e da comercialização massiva da boneca, que perdura há mais de 60 anos.

E assim começa a saga…

No enredo, Barbie (Margot Robbie) vive em Barbieland, um mundo aparentemente perfeito, onde as Barbies têm o propósito de empoderar mulheres no Mundo Real, permitindo que elas sejam tudo aquilo que desejarem. Só existem bons dias, com sol, alegria, amigos perfeitos…um mundo cor de rosa, no qual as Barbies nem caminham até seus carros…elas flutuam…

Foto: Reprodução

(E quem não se encaixa nesse mundo perfeitinho fica isolado, como a Barbie Estranha…)

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No entanto, essa ilusão de perfeição começa a ruir quando Barbie confronta a desconfortável possibilidade da morte e da imperfeição, desafios inéditos em sua vida cercada por falsas aparências. Para resolver a situação, ela embarca em uma jornada rumo ao Mundo Real com Ken (Ryan Gosling) deixando para trás o caminho cor-de-rosa e buscando compreender o que de fato acontece ao conhecer os humanos mais de perto.

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Surpreendentemente, Barbie descobre que sua criação não tornou o mundo mais favorável às mulheres. Muitas ainda enfrentam dificuldades para ocupar cargos de liderança e são frequentemente objetificadas, como se sua única finalidade fosse servir aos homens, que, ironicamente, mostram-se inaptos ao assumir o poder.

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Perplexa, Barbie segue na sua jornada, enquanto enfrenta diversos desafios da vida real, como assédio, perseguições e até mesmo uma noite na prisão. Sim! Tudo isso graças a caçada frenética iniciada pelo dono da empresa de brinquedos Mattel, representada aqui por Will Ferrell, que está empenhado a trazer a boneca de volta à caixa a todo o custo.

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Enquanto Ken se enche de ânimo e se empodera, vislumbrando implantar o patriarcado em Barbieland em seu retorno e assim (quem sabe), ter o amor e a atenção da Barbie, instaurando o Kendom, a boneca se depara com uma dura realidade. O véu da ilusão cai diante de seus olhos, fazendo com que tudo o que ela conhecia e entendia sobre o mundo entre em colapso: apesar de todas as suas qualidades e intenções genuinamente boas, sua aparência perfeita não faz diferença alguma na resolução dos problemas no mundo real, o que a leva a enfrentar sua primeira crise existencial.

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A jornada de autodescoberta coloca Barbie diante de questões cruciais, como sororidade e insegurança, abalando sua visão anterior sobre a busca incessante pela perfeição, construída sob a perspectiva machista. No filme, percebemos um foco na discussão da política de gênero. Essa visão é reforçada quando, em sua trajetória, Barbie faz novos amigos.

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Um dos momentos marcantes do filme é o poderoso monólogo de America Ferrera, que representa o pensamento de muitas mulheres, contestando as imposições sociais à mulher e o papel inalcançável de beleza, produtividade, felicidade e competência, sem espaço para falhas, algo que não se aplica quando o assunto é o universo masculino. Entre tantas reflexões, em essência, é uma questão de estarmos dispostos de fato a nos olhar, nos examinar internamente, explorar a própria identidade para além das definições sociais estabelecidas e além do que foi atribuído pela sociedade e lutar pela mudança. E isso pode ser apavorante para algumas pessoas, pois há a possibilidade de ser falível.

No caminho para restaurar a Barbieland, tomada por conflitos, mudanças acontecem. Apesar de tudo parecer como antes e a paz voltar a reinar, com algumas alterações, como alguns Kens participando mais ativamente das decisões e as Barbies sendo mais inclusivas, retirando a Barbie Estranha de seu isolamento social, a Barbie de Margot Robbie é levada a confrontar a necessidade de compreender que a perfeição é uma fantasia irreal e inalcançável.

Ken também passa por uma crise existencial, pois precisa entender quem ele é sem a Barbie, e essa é outra parte do filme que vale a pena prestar atenção para você ter seus próprios insights. Barbie mostra a ele que ser sensível e amável também é uma virtude, e ele pode ser o que ele quiser, só precisa entender sua individualidade.

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Compreendendo que Barbieland não é perfeita, Barbie se liberta, enfrentando novos desafios no mundo real. Barbie decide se tornar humana, para viver a vida com todas as suas luzes e sombras, mesmo sabendo que, com isso, deixará de ser uma ideia imortal e arcará com o peso da morte, em algum momento.

Apesar da classificação indicativa, este filme é melhor aproveitado pelos adultos. Barbie é muito mais do que um filme de entretenimento…a sagacidade de sua narrativa traz a mensagem de que se faz necessário romper as amarras impostas por uma sociedade que há muito alimenta o mito da perfeição, e nos faz um convite à aceitação, à sororidade, à necessidade de nos reconectarmos com nossas essências, aprender a nos respeitar e a valorizar a nós mesmas, do jeitinho que somos, lembrando que, como seres humanos, a imperfeição é parte essencial da nossa humanidade.

Sobre Patrícia Fernandes

Profissional com múltipla formação e especializações, com destaque para Direito, Reprogramação Emocional, Terapeuta Integrativa e Analista Comportamental, Especializada em Escuta Ativa a Mulheres, em especial às que sofrem violência ou se encontram em estado de vulnerabilidade, Patrícia é também redatora e apaixonada pela cultura geek , beleza e tudo que envolve o desenvolvimento humano. Instagram: @mundodapatty

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