Onde estão as mulheres no Oscar 2023?

A cineasta e colunista Sabrina Fidalgo reflete sobre a esnobada da Academia a nomes femininos que brilharam em produções de peso

Sempre foi sabido e notório que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood nunca foi, digamos, lá muito chegada à uma política de inclusão. Mas em pleno 2023, uma safra (e das boas!) de filmes realizados por mulheres diretoras e autoras ter sido completamente ignorada nas principais categorias do Oscar – incluindo Melhor Direção – reacendeu a boa e velha luz vermelha indicando perigo.

Foram 82 anos até a primeira mulher ganhar esse prêmio (Kathryn Bigelow por Guerra ao Terror), mais 11 para a segunda mulher ganhar (Chloé Zhao por Nomadland) e apenas mais um para a terceira (Jane Campion por Ataque dos Cães). Mas o recém-anunciado grupo de indicados para o prêmio de direção deste ano é todo masculino – na verdade, são seis homens para as cinco vagas, contando com a dupla de diretores de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo conhecida como os “Daniels”, Daniel Kwan e Daniel Scheinert.

A verdade é que não devemos nos deixar abater pelas não-indicações ao Oscar, visto que a temporada de outras premiações – mais modestas, menos badaladas, porém importantes – refletiu mais um ano marcante para as mulheres cineastas.

Senão, vejamos; Gina Prince-Bythewood surpreendeu positivamente o público com o acachapante A Mulher Rei estrelado e produzido pela estrela Viola Davis (também esnobada na categoria Melhor Atriz); a cineasta estreante Charlotte Wells com o seu drama de época cult-confessional “Aftersun” – com grande aclamação da crítica,- o amplamente elogiado de Till – A Busca por JustiçaEla Disse de Maria Schrader e Entre Mulheres de Sarah Polley foram todos filmes que ousaram elevar a conversa em torno dos filmes da era pós-Me-Too. Porém, conforme os indicados para a categoria de Melhor Diretor iam sendo revelados no dia do anúncio dos indicados desse ano à estatueta, não fiquei de todo surpresa ao ver os nomes desses seis homens, mais uma vez, excluindo as mulheres totalmente dessa categoria.

E como diz o velho ditado “se não tem tu, vai tu mesmo”, o negócio é celebrar – com um olho no padre e outro na missa – nossas vitórias onde e do jeito que pudermos: Entre Mulheres saiu com duas indicações no total, incluindo uma de Melhor Roteiro Adaptado. Mas o filme não se dirigiu sozinho. É difícil não notar a flagrante omissão do nome de Sarah Polley na categoria Melhor Direção quando a lista é inteiramente composta por homens.

Mulheres ignoradas na categoria de Melhor Diretor – #OscarSoMale

A verdade é que o escandaloso fato de nenhuma mulher ter sido indicada para a categoria de Melhor Diretor este ano, gerou muita raiva e várias acusações de sexismo nas redes sociais.

Alegações de sexismo têm sido feitas regularmente ao Oscar ao longo dos anos. Até 2021, Kathryn Bigelow havia sido a única mulher a ganhar o principal prêmio de direção de Hollywood, que ela levou para casa pela fita de guerra Guerra ao Terror.

De todo modo o Oscar foi “generoso” para com as mulheres nesses últimos dois anos, com Chloé Zhao (Nomadland) e Jane Campion (Ataque dos Cães) recebendo suas estatuetas o que nos levou a crer que finalmente as ininterruptas décadas de dominação masculina chegavam ao fim. Lego engano.

Este ano, nenhuma mulher entrou na brincadeira sendo completamente esquecidas, o que fez com que rapidamente a hashtag #OscarSoMake fosse viralizada.

Os nomeados desse ano são:

Steven Spielberg (Os Fabelmans)
Martin McDonagh (Os Banshees de Inisherin)
Todd Field (Tár)
Ruben Ostlund (Triângulo da Tristeza)
Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)

A academia também foi criticada por não incluir nenhum ator negro nas categorias de atuação principal.

Clube do Bolinha

As indicações ao Oscar deste ano parecem indicar que a produção de filmes ainda é uma matéria dominada pelos homens, especialmente quando se trata de funções principais como direção, roteiro e montagem.

Para além da categoria Melhor Diretor nenhuma mulher foi indicada para Melhor Roteiro, enquanto os prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Montagem incluíram apenas uma mulher indicada.

“Mais uma vez, os votantes da Academia mostraram que não valorizam as vozes das mulheres, nos deixando de fora das indicações de Melhor Diretor”, disse o grupo de apoio, “Women In Film”, de Los Angeles, em um comunicado oficial.

“Um Oscar é mais do que uma estátua de ouro, é um acelerador de carreira que pode levar à continuidade do trabalho e ao aumento da remuneração.”

“…o WIF continuará a defender o trabalho de diretoras talentosas.”, finalizam o comunicado.

No ano em que entrou para o seleto grupo de artistas EGOT (vencedores do Emmy, Grammy, Oscar e Tony) Viola Davis perdeu a indicação de Melhor Atriz por seu papel em um dos maiores sucessos de bilheteria do ano, “A Mulher Rei” , assim como Danielle Deadwyler por Till.

Sobre o assunto o crítico de cinema americano Robert Daniels postou um tweet contundente:

“Halle Berry ainda é a única mulher negra que ganhou o prêmio de Melhor Atriz. SELMA ainda é o único filme dirigido por uma mulher negra a ser indicado para a categoria principal de Melhor Filme. Um diretor negro nunca ganhou o prêmio de Melhor Diretor; e uma mulher negra nunca foi sequer indicada”.

Ou seja, ainda há muito trabalho pela frente em se tratando de mudar a mentalidade conservadora dos membros da Academia. Agora é esperar para que nesse domingo as vozes não se calem durante mais uma cerimônia do Oscar nada igualitária.

Fonte: Vogue

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