“Nasce uma mãe, nasce uma empreendedora.” A frase compartilhada nos grupos de empreendedorismo materno reflete a realidade de muitas mulheres que começam a empreender depois da maternidade.
De acordo com estudo do Observatório de Negócios, em parceria com o Sebrae Delas Mulher de Negócios, que entrevistou 800 empreendedores em Santa Catarina (sendo metade dos respondentes mulheres e a outra parte homens), 50,5% das empreendedoras são mães. Já entre os homens, apenas 37,3% são pais. As mulheres também têm mais filhos – elas possuem uma média de 1,8, enquanto eles têm, em média, 1,6.
Um estudo do Sebrae Minas revelou que sete em cada dez mulheres começaram a empreender depois de se tornarem mães. O principal motivador é ter maior flexibilidade de tempo para conciliar a carreira, a maternidade e os afazeres domésticos.
Um outro fator que impulsiona o empreendedorismo em decorrência da maternidade é o pouco acolhimento do mercado de trabalho com as profissionais mães. De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), metade das mulheres que têm filhos são demitidas até dois anos após a licença-maternidade.
“A gente tem mulheres que voltam para o ambiente corporativo e são demitidas, voltam para o corporativo e não são acolhidas, mulheres que precisam ter um pouco mais de flexibilidade porque as licenças maternidade são menores, mulheres que voltam e não se encaixam mais nesse universo”, afirma Marina Barbieri, coordenadora do programa Sebrae Delas em Santa Catarina, sobre a realidade das mães no mercado de trabalho.
Algumas questões que impactam a permanência pós-maternidade de mulheres no ambiente corporativo são:
Licença-maternidade inferior a seis meses, período mínimo de amamentação exclusiva recomendado pela organização Mundial de Saúde (OMS);
Falta de estrutura dentro das empresas para as necessidades das mães lactantes;
Horários rígidos que não acomodam as necessidades de atenção e cuidado do bebê;
Desigualdade salarial. Segundo o estudo da FGV, os salários das mulheres no mercado de trabalho tendem a cair 7% após o retorno da licença maternidade.
Vantagens do empreendedorismo materno
Diante do pouco acolhimento no ambiente corporativo, muitas mães veem no empreendedorismo materno uma alternativa que traz vantagens e benefícios.
Flexibilidade de horários
Esse é um dos principais atrativos para as mães. Ter seu próprio negócio permite que elas façam a gestão do seu tempo. Dessa forma, é possível criar uma rotina de trabalho que se adequa às crianças, com possibilidade de buscar na escola, levar ao médico e realizar outras tarefas que não seriam possíveis como funcionárias.
Presença em casa
Muitas mães optam por começar sua empresa na própria casa. Com horários bem definidos, é possível utilizar os intervalos de trabalho para aproveitar o tempo e acompanhar de perto o desenvolvimento dos pequenos.
Geração de renda
O empreendedorismo materno pode ser uma alternativa de renda viável às mães, trazendo independência e segurança financeira. Ter uma fonte de renda própria é importante para manter a autonomia, o autocuidado e a autoestima da mulher.
Rotina além da maternidade
A maternidade muda o senso de prioridade de uma mãe, mas a família não precisa ser a única ocupação materna. Ser empreendedora é uma maneira de manter-se atualizada, ampliar a gama de interesses e aprendizados, aumentar a rede de relacionamento e o senso de valor próprio.
Desafios das mães empreendedoras
É importante não romantizar o empreendedorismo materno. Apesar de ter diversos benefícios, eles muitas vezes se tornam dificuldades se não forem bem administrados.
A flexibilidade de horários pode ser uma cilada caso não esteja acompanhada de uma gestão do tempo adequada. Trabalhar em casa, da mesma maneira que traz praticidade, pode confundir os limites entre trabalho e lazer.
O resultado são mães empreendedoras sobrecarregadas, com a saúde mental e física em risco e sem tempo de cuidar de si mesmas.
O discurso de maior liberdade e flexibilidade para dar conta da maternidade sem precisar abrir mão da carreira profissional é sedutor, mas trabalhar, cuidar do filho, manter a casa e ainda gerar renda vira um tiro no pé se não vier acompanhado de planejamento e estrutura.
Alguns dos principais desafios do empreendedorismo materno:
Falta de tempo;
Pouco conhecimento em gestão e empreendedorismo;
Dificuldade em levantar capital;
Interesse temporário em assuntos relacionados ao universo materno;
Falta de apoio e reconhecimento da família;
Sobrecarga física e mental.
Como conciliar maternidade e empresa?
Para evitar frustrações é necessário entender que essa não é uma tarefa fácil. Empreender exige tempo, dinheiro, persistência e os resultados muitas vezes demoram pra chegar. Para tentar conciliar essa jornada com a da maternidade, algumas dicas fazem a diferença:
Planeje antes
Para quem nunca empreendeu, começar um negócio em meio a maternidade pode ser um desafio e tanto. Portanto é importante minimizar os riscos para transformar o sonho em negócio. Ter um plano de negócios, com pesquisa de mercado, análise de concorrência e metas a serem alcançadas, é o ideal. Algumas ferramentas, como o canvas do empreendedorismo feminino, ajudam a realizar essas tarefas de maneira simplificada para mulheres que precisam gerar renda com agilidade e não podem esperar para abrir seu negócio.
Organize suas finanças
Todo negócio precisa de investimento. Começar uma empresa tem um retorno financeiro demorado, portanto é necessário ter isso em conta no seu planejamento. Com organização, é possível viabilizar estratégias para investir no negócio – várias instituições financeiras têm ofertas de crédito com condições especiais para mulheres.
Comece com o que você sabe
Outra dica é começar a empreender em um negócio que você tenha conhecimento ou domínio. Pode ser uma consultoria em uma área que você tenha experiência profissional, algum hobby que você queira profissionalizar ou algum interesse que você veja a possibilidade de monetizar.
Não faça sozinha
Construa uma rede de apoio forte, ela vai ser sua principal aliada na hora da maternidade e de empreender. Não tente provar que consegue dar conta de tudo sozinha, isso só vai gerar sobrecarga e limitar suas chances de crescer. Aprenda a delegar os cuidados com o filho e com a empresa. Defina quem vai cuidar da criança quando estiver trabalhando – seja de maneira remunerada ou com a ajuda da família. A conversa com o cônjuge para a divisão de tarefas e o apoio ao negócio é fundamental para que você se torne uma mãe mais tranquila e uma empreendedora mais focada.
Você não vai trabalhar menos
Quanto mais preparada você estiver para isso, melhor! Não é porque empreender traz flexibilidade que isso significa que você vai trabalhar menos. Entender que conciliar as tarefas domésticas, os cuidados com a família, a vida pessoal e o trabalho não vai ser fácil e estar preparada para lidar com isso diminui as chances de frustração.
Exerça o foco com flexibilidade
Quem tem filhos sabe que nem sempre o planejamento dá certo. Ser mãe e empreendedora é saber equilibrar esses pratinhos. Por isso quanto mais disciplinada e realista você for, melhor vai ser a sua jornada. Tenha horários possíveis de trabalho e estabeleça metas factíveis para essas horas trabalhadas. Se não sair conforme o planejado, seja flexível, criativa e não se culpe!
Capacite-se
Procure conhecimento nas áreas que você não tem domínio. Conhecer mais sobre ferramentas de gestão e questões relacionadas ao empreendedorismo vai trazer mais confiança na hora de empreender. Fortalecer as competências socioemocionais também é importante para criar coragem, confiança e motivação. Existem várias possibilidades de cursos de capacitação para empreendedoras que cabem no seu orçamento e na sua disponibilidade de tempo.
Oportunidades do empreendedorismo materno
Nem todas as mulheres que têm filhos e são empreendedoras se identificam com o empreendedorismo materno. O termo está relacionado a mulheres que encontraram no empreendedorismo um caminho para conciliar maternidade e trabalho longe do ambiente corporativo. Muitas vezes, começa por necessidade, mas pode abrir caminhos para muitas oportunidades.
O empreendedorismo materno é um conceito guarda-chuva que contempla ações e negócios criados por mães que abraçam a maternidade como uma característica fundamental nas suas vidas e usam isso a seu favor nos negócios.
Assim como acontece com o empreendedorismo feminino, a formação de comunidade e a conexão são ferramentas de fortalecimento para negócios comandados por mães.
Existem vários grupos, campanhas e movimentos que potencializam o alcance das empresas comandadas por mães empreendedoras, o que torna as redes sociais uma grande aliada. Investir em presença digital e participar de grupos específicos de empreendedorismo materno ajuda a alimentar esse ciclo positivo de negócios.
Foi assim, a partir de um grupo de empreendedoras nas redes sociais, que Clareana Eugênio criou a Maternashop, uma plataforma virtual que conecta e fomenta negócios entre mães. “Todas as que estão ali, mesmo as que não empreendem, elas sentem o peso da maternidade na vida delas. Elas sempre falam: se é super difícil ser mãe, eu imagino como é para quem é mãe e empreendedora, por isso eu só compro de mães”, afirma Clareana.
Comprar produtos e contratar serviços de mães têm várias implicações. Muitas vezes o preço é mais alto, pois a empreendedora não produz em larga escala para ter um valor competitivo, mas o fortalecimento da causa compensa. Segundo a empresária, parte do seu trabalho é conscientizar as pessoas sobre a importância de se consumir de outras mães e a diferença que isso faz na cadeia do empreendedorismo e maternidade.
“A nossa principal preocupação é gerar renda para essas mulheres. A gente faz isso por meio de um espaço de divulgação, capacitação, formação, conteúdo e apoio, o que faz sentido para muitas de nós”, completa Clareana.
(Fonte: Sebrae SC)