Fomos educados para sermos pobres

Não é novidade que o brasileiro é, financeiramente, deseducado. Haja vista que o número de inadimplentes já se somam mais de sessenta milhões de pessoas, em 2020, segundo dados do SPC Brasil.

Embora dados sejam importantes, o que pretendo trazer à luz da discussão, não são apenas os números objetivos que demonstram a quantidade de pessoas inadimplentes, mas os dados subjetivos da questão.

Entre meus clientes estão empresários, professores, comunicólogos, gerentes, médicos, atendentes de balcão e, ao ouvir cada um desses profissionais, de áreas distintas, vejo que a história se repete em todos os casos: a administração financeira pessoal tem pouco ou nada a ver com a educação formal recebida nas escolas.

Há três anos, atuando como mentora e treinadora em finanças pessoais, ainda me assusto com o nível de desinformação sobre o orçamento familiar, a matemática financeira básica e outros ativos além da velha poupança.

Segundo o educador financeiro T. Harv Eker, famoso pelo livro “Os segredos da mente milionária”, uma situação financeira precária tem relação direta com o “como e quanto” as pessoas gastam e menos relação com o quanto elas ganham. Assim como Eker, comprovo essa máxima todos os dias ao analisar as pessoas que atendo.

Já parou para pensar que, se de fato, o conhecimento formal fosse garantia de vida próspera, as faculdades estariam lotadas de milionários?

Pois é, infelizmente terminamos o ensino médio sem saber como declarar o imposto de renda ou como os juros compostos podem ser nossos aliados ou nosso pior inimigo. Pior ainda, saímos da escola sem saber que os bancos e as empresas de crédito lucram, absurdamente, concedendo crédito a juros de agiotagem e vendendo produtos, horríveis, pouco ou nada vantajosos como, por exemplo, consórcios e títulos de capitalização.

Às vezes me pergunto se nove anos dedicados à educação formal não é tempo suficiente para encaixarmos disciplinas que educarão pessoas para a vida. Penso tão profundamente nesse assunto que chego à neurose: será que, talvez, exista uma conspiração que encaixe pessoas dentro de um sistema que as façam dependentes dos bancos e do governo? Assim, “encaixados” e totalmente dependentes não terão senso crítico para discordar daqueles que as sujeitam à obediência muda.

Sempre que houver uma relação de dependência, a sujeição estará presente. Se você mora com sua mãe, é natural obedecer às regras da casa. Se você trabalha em uma empresa é lógico obedecer às normas da firma.

Voltando à temática do “deseducado financeiramente” aqui tomo a liberdade de criar um novo significado para a palavra que etimologicamente seria “inculto, grosseiro, rude” para quem é “preparado para não saber”, preparado para estar encaixado em um sistema que o manterá, no mínimo, dependente e pobre.

Juliana Coimbra

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, atualmente, o Brasil possui 48 milhões de estudantes, e, sendo pessimista mesmo, assumo, não acredito que a realidade vá mudar na mesma velocidade que o país e as pessoas precisam.

Nesse ritmo lento de transformação, a educação financeira fica a cargo de umas poucas pessoas que defendem a bandeira, assim como eu, de um cidadão alfabetizado financeiramente, justamente, por acreditarem, firmemente, que a prosperidade está onde a informação está.

 

Juliana Coimbra é Mentora e Educadora Financeira. Ela administra o canal @jucoimbraoficial com objetivo de educar as pessoas e deixá-las mais conscientes sobre a relação delas com o dinheiro.

Uma resposta

  1. Excelente artigo. Realmente nao somos educados a pensar no dinheiro como algo que necessita ser respeitado através de uma expertise pessoal
    É como se fosse algo externo que “vem” ou “vai”
    Fazer dele uma ferramenta é a forma de senti-lo
    DENTRO de sua vida
    A prosperidade vem como consequência inevitável….

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