Aumento dos casos de doenças cardiovasculares em mulheres acende alerta para prevenção de forma integrada

A saúde da mulher sempre foi historicamente tratada de forma generalizada. Por exemplo: sempre se acreditou que os riscos de doenças cardiovasculares eram os mesmos para homens e mulheres. Em 2022, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) trouxe atenção para o tema com a publicação do Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres.

A médica assistente da Disciplina de Cardiologia do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC, Dra. Carla Janice Baister Lantieri, que também contribuiu para a construção do documento, reforça que, hoje, a medicina sabe que o ciclo de vida das mulheres apresenta diferentes fases e, cada uma, com suas características, está conectada ao aumento dos fatores de risco.

Esse tema ganha força com um dado preocupante: o DataSUS revelou que, em 2019, as doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de mortalidade feminina no Brasil, superior inclusive à soma de todos os tipos de câncer – são mais de 170 mil óbitos por ano no país.

Diante dos números, foi criado o Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher, em 14 de maio, para reflexão sobre o tema. “Sim, em cada momento da vida da mulher há prioridades de saúde. Por exemplo, a gravidez é um momento de alteração importante dos níveis hormonais com propensão ao aparecimento da hipertensão arterial gestacional, a qual tem chance de evoluir para a hipertensão sistêmica pós gestação. No pós-parto, há alterações glicêmicas e dificuldade para reduzir o peso. Na menopausa, temos a perda do fator protetor do estrogênio, quando o sistema fica mais vulnerável a sofrer um infarto do miocárdio”, relata a Dra. Carla Janice Baister Lantieri.

Segundo ela, os fatores de risco relacionados ao sexo ainda incluem síndrome dos ovários policísticos, uso de contraceptivo hormonal e terapia de reposição hormonal na menopausa. “Há distorção da ideia de que mulheres se cuidam mais e vão ao médico mais vezes. Isso acontece devido aos exames ginecológicos, mas não quando falamos das doenças do coração. Estamos usando a expressão janela de oportunidade para os profissionais investigarem a fundo a saúde e o estilo de vida como um todo, encaminhando os casos sempre que necessário para o especialista responsável – nesse caso, o cardiologista – para que se crie uma rotina de cuidados preventivos”, analisa a especialista.

Todos os sintomas devem ser levados em consideração. Até porque no caso de infarto a mulher pode não apresentar os sinais comuns, negligenciados por médicos e pacientes. “Desconforto epigástrico, fadiga e palpitações acabam sendo vistos como sintomas de ansiedade e atrasam o início do tratamento correto”, destaca a Dra. Carla.

Ela explica que cuidado e atenção devem vir desde a primeira infância, objetivando construir um comportamento alimentar saudável, com estímulo ao consumo de alimentos in natura e preparo da própria refeição, além de, claro, ter motivação para prática de atividades físicas, e promoção da saúde mental da mulher.

“Esse assunto não pode ser generalizado, porque o documento elaborado pela SBC também mostra que existe a situação socioeconômica – mulheres de baixa renda passam por todos esses desafios porque estão mais propensas a ter obesidade e colesterol alto, por exemplo, devido à falta de iniciativas que propaguem o conhecimento a respeito da sua saúde. Um dado preocupante é também a violência contra a mulher, muitas vezes essas se encontram expostas ao estresse crônico, que corrobora para o adoecimento precoce”, reforça.

A exposição ao tabaco, e cigarros eletrônicos sem sido observada em um número considerável entre crianças e adolescentes, o que se torna um problema de saúde pública e deve ser enfrentado de forma intersetorial, para a implementação de medidas preventivas e terapêuticas.

“Além disso, também foi constatado que aquelas que iniciam o consumo drogas ilícitas e bebidas alcoólicas na adolescência são mais suscetíveis à gravidez não planejada, que é responsável por alterações físicas e na saúde emocional. Por isso, quando falamos de saúde cardiovascular da mulher o cardiologista não é o único responsável pela atenção: é preciso uma equipe multidisciplinar que entenda e oriente para as diferentes particularidades do ciclo”, completa a médica.

A campanha Juntos por Elas, da Biolab Farmacêutica, propaga uma nova abordagem para o cuidado com a saúde das mulheres – desde acolhimento, diagnóstico e tratamento à prevenção. “Estamos diante de um novo modelo de rotina. Além da carga do trabalho doméstico as mulheres têm suas carreiras profissionais e, consequentemente, o comprometimento da qualidade de vida. O controle dos fatores de risco para as Doenças Cardiovasculares na mulher devo ser priorizado, bem como a promoção da saúde. Fatores protetores comportamentais, entre eles a alimentação saudável, atividade física regular, saúde emocional e boa qualidade do sono, beneficiam a todas, mas a abordagem da equipe de saúde deve ser feita de forma individualizada e continuada durante toda a vida da mulher. Existe a necessidade de orientá-las para que as chances de adoecimento sejam minimizadas e que a saúde seja preservada”, complementa a Dra. Carla Janice Baister Lantieri.

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