Nas últimas semanas, testemunhamos uma série de tragédias no Rio Grande do Sul, estado brasileiro com cerca de 11,4 milhões de habitantes. Tragédias, no plural, visto que a devastação causada pelas chuvas na região provocou mais do que a morte de pessoas e animais. A falta de suprimentos, energia elétrica e internet são apenas alguns dos muitos problemas daquele cenário de guerra, onde os abrigos coletivos são verdadeiras trincheiras para os milhares de desabrigados.
Ao mesmo tempo que acompanhamos a solidariedade e resiliência do povo brasileiro, enxergamos também a ausência de políticas ambientais efetivas, a falta de segurança para mulheres e crianças nos abrigos coletivos, o descaso com os animais deixados em meio à enchente por seus criadores, entre tantas outras pautas. A verdade é que no caos, quem sofre mais são as minorias, mesmo quando há quem diga que, numa situação como esta vivida pelos gaúchos, todos sofrem, afinal tragédia não escolhe raça, gênero ou espécie. A tragédia não, mas seus causadores sim!
O racismo ambiental é mais uma entre as tantas formas de discriminação que atingem pessoas pretas, indígenas e pobres. Recentemente, o termo foi fortemente atacado após Anniele Franco, Ministra da Igualdade Racial, ao usá-lo durante outra tragédia climática, na ocasião, no Rio de Janeiro, no início do ano (24). Além das favelas, formadas pela falta de acesso à moradia e sem saneamento básico, as comunidades indígenas e quilombolas também são afetadas pelo racismo ambiental. Por estarem localizadas em áreas de grande valor ecológico, como florestas e reservas naturais, possuem profundo conhecimento sobre o sistema ecológico, mas pouca influência sobre as políticas que afetam seus territórios, ficando excluídas do processo de tomada de decisão.
Quando falamos em políticas públicas, cobramos do Estado um conjunto de ações e medidas para a promoção do bem-estar social. Por isso, ações que visem diminuir o desmatamento, a poluição dos recursos hídricos e a degradação dos ecossistemas naturais são primordiais, assim como a expansão agrícola e industrial aliada a práticas não sustentáveis precisam ser combatidas, a fim de proteger a biodiversidade e a qualidade de vida das comunidades locais.
Quando falamos em racismo, independente da sua forma, abrimos discussão para todas as esferas sociais, visto que a discriminação é mais uma maneira de descaso com todo um povo.
Qualquer impacto ambiental provocado pelo racismo ambiental atinge diretamente a população. A tragédia do Sul do Brasil não massacrou apenas aquela região, mas desestabilizou toda uma nação econômica e moralmente. Promover a justiça social de forma integrada e inclusiva é urgente!