Kit de sobrevivência para o pequeno negócio

No Brasil, Seis em cada Dez empresas fecham nos primeiros cinco anos, segundo as estatísticas de Empreendedorismo, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Infelizmente vivemos em um país de economia mega instável, com crises recorrentes e má gestão pública, esse é o nosso cenário externo. Mas o que acontece internamente dentro das empresa s que as tornam tão frágeis diante das crises?

Inserida dentro das organizações, observei que alguns traços comportamentais dos empreendedores tinham ligação direta com o resultado e a atual situação da empresa, tais como:

  • Descontrole financeiro pessoal do empreendedor
  • Negligência e desconhecimento dos números
  • Excesso de otimismo
  • Vigilante da concorrência
  • Manutenção de colaboradores improdutivos
  • Não valorização dos talentos
  • Manutenção de sócios improdutivos e até desonestos
  • Centralização de tarefas

Como consultora empresarial há mais de 15 anos, participei de projetos em empresas com faturamento anual acima de cem milhões de reais como também de pequenas e micro empresas.

Uma questão que sempre me intrigava era, por que algumas empresas sobrevivem e outras não? Nessa trajetória, ao longo do tempo fui observando alguns princípios que as empresas longevas, tradicionais de 40, 60 anos ou mais anos, inseridas no mesmo cenário tinham, o que apelidei de “KIT DE SOBREVIVÊNCIA”, são regras simples de gestão, que se adaptam à qualquer negócio, desde grandes à microempresas.

Vamos a eles:

  1. Princípio da Entidade: Consiste na separação do patrimônio empresarial do patrimônio particular dos seus sócios, ou seja, a separação do dinheiro da Pessoa Jurídica e da Pessoa física. A remuneração do dono deve ocorrer por pagamento de Prolabore e/ou distribuição de lucros. É nesse sentido que o descontrole das finanças pessoais dos donos, sangra e adoece gradativamente o negócio.
  2. Princípio da Competência: Determina que os lançamentos das entradas e saídas sejam registrados nos períodos em que ocorreram, independente do pagamento ou recebimento.

O objetivo deste princípio é manter o controle do orçamento e fazer projeções financeiras, evitando o endividamento, pois dá maior previsibilidade dos custos e das despesas. Fazer isso também dá precisão na avaliação de lucros e prejuízos.

  1. Princípio da Prudência: Por esse princípio, deve-se projetar as receitas pra baixo e despesas pra cima. Além disso requer que se faça provisões das perdas nos estoques, das férias, 13º salário, reajuste de matéria prima e até perdas nos investimentos.
  1. Conhecimento dos números: É ter na ponta do lápis os indicadores de Rentabilidade, assim é possível saber o retorno gerado dos valores investidos no negócio e a saúde financeira da empresa. Dentre eles podemos citar Margem líquida, Giro do Ativo, Rentabilidade do Ativo e Rentabilidade do Patrimônio Líquido. Muitos empreendedores trabalham com foco na venda e no pagamento das despesas, mas perguntas essenciais ficam sem resposta: Qual a margem de lucro? Quanto a empresa cresceu em relação ao último ano? Quanto ela gera de caixa para reinvestimento e expansão?
  1. Reserva de emergência para o negócio e para o dono: Está aí um aprendizado da pandemia, manter reservas financeiras! Quem poderia imaginar uma situação de lockdown como a que estamos vivendo há quase dois anos?

Há uma convergência entre os educadores financeiros de se ter uma reserva de emergência de pelo menos 12 meses dos custos fixos da empresa. E também para o dono de pelo menos 12 meses dos custos de sobrevivência. O objetivo é a manutenção dos compromissos e um respiro até que a empresa se reorganize em tempos de crise.

  1. Controle de custos e despesas nos mínimos detalhes: Este é um item fundamental e que deve ser acompanhado diariamente item a item, de preferência com definições de metas; Nem sempre é possível repassar todos os aumentos aos clientes e esse descompasso entre o aumento dos custos sem aumento de receitas, reduz as margens de lucro. Um indicador que auxilia bastante é o Ponto de Equilíbrio. É um cálculo que permite saber o quanto de receita uma empresa precisa gerar para pagar todas as suas despesas.
  1. Busca contínua por novas receitas: Muitas empresas tem capacidade ociosa, seja de mão de obra, espaço, maquinário, equipamentos etc., trazer novas receitas fazem com que o custo fixo seja diluído e as margens de lucro aumentem, aqui parte do pressuposto de trazer receita nova sem aumentar os custos fixos.
  1. Saiba escolher seus sócios: Procure como sócio pessoas que tenham os mesmos valores, que sejam competentes, que tenham como meta fazer o negócio prosperar; pessoas que também sejam geradoras de receitas. Não há nada mais frustrante numa sociedade onde um sócio se sente explorado pelo outro.

Os acordos iniciais são fundamentais, apesar de muitas pessoas evitarem o assunto, falar sobre dinheiro e discutir as expectativas de um em relação ao outro pode evitar muitas dores de cabeça no futuro, fazer isso é vital para o negócio e para a continuidade da sociedade.

  1. Valorize as pessoas que contribuem para a empresa: Estar à frente da empresa exige capacidade de liderança. Desenvolva a habilidade de motivar, influenciar, inspirar e comandar sua equipe, assim ficará mais fácil delegar atividades deixando tempo livre para as estratégias.

Os centralizadores de plantão às vezes estão tão imersos na operação que não sobra tempo para planejar os passos futuros, analisar os números, avançar e até retroceder, é importante ter em mente que a equipe não se prepara sozinha, a liderança é quem faz tudo acontecer.

  1. Formalize seu negócio: Um dificultador de crescimento é a falta de formalização. A não formalização advém muitas vezes de o medo do empreendedor pagar muitos impostos, é sempre bom lembrar que Paga imposto quem fatura! Existem inúmeros benefícios da formalização, como:
  1. A possibilidade de vender para outras empresas que exigem a emissão de nota fiscal
  2. Evitar problemas com a fiscalização e pagamentos de dívidas retroativas acrescidas de multas e juros
  3. A possibilidade de crescer como empresa
  4. A possibilidade de fazer compras mais baratas, já que existem grandes varejistas que praticam descontos para pessoa jurídica, e por fim,
  5. Ter as coberturas da previdência social para o dono e para os colaboradores.

Estes 10 princípios podem parecer complexos inicialmente, mas todos são itens da gestão cotidiana, a atenção a eles além de proteger a empresa perante às crises também fornecem uma maturidade e subsídio para o crescimento e a expansão.

Sobre a autora:

Juliana Coimbra é consultora empresarial com foco em médias, pequenas e microempresas. Com mais de 15 anos de experiência, desenvolve projetos com foco na geração de resultados.

Além da vivência empresarial, possui visão sistêmica e entendimento dos cenários político e econômico antecipando as decisões visando proteger a empresa diante das crises.

Atua com outros projetos como: Rotinas inteligentes, Alavancagem de Receitas e Margens de lucro, Controle assertivo dos custos e despesas, Precificação, Melhoria dos processos operacionais, Gestão da qualidade entre outros.

Para obter mais informações sobre consultoria  e mentoria financeira acompanhe as redes sociais.

jucoimbraoficial

 

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