Em entrevista para o Portal Afro, a artista plástica compartilha a sua percepção e relação com a pintura que ela define com uma ferramenta para construir novas memórias
“O museu é um lugar de ausência”, segundo a entrevistada. O spoiller é do bate-papo da artista plástica, Lia D Castro, com o Portal Afro. Com um olhar que, através de suas pinturas, também busca entender a complexidade das relações sociais contemporâneas: podemos defini-la assim. Com formação acadêmica em artes visuais, Lia vai além do elogiado trabalho artístico que acabou de ser mostrado na galeria Jacqueline Martins, na capital paulista, e tem procurado entender a arte para além dos espaços institucionais que a representam.
Para ela, que também possui conhecimentos em temas como criminologia do ódio, antropologia, psicologia comportamental e sociologia, a visão do que é arte hoje, neste começo de século XXI, precisa ser debatida para que novas abordagens possam ser concebidas. Novas abordagens mais inclusivas e diversas. Isto porque para Lia, a arte tem um papel que ultrapassa a exposição feita nas paredes das galerias e museus. Lia afirma que a arte também foi, durante séculos, um instrumento de opressão e exclusão. Por isso, ela acredita que hoje, em uma época de tantas transformações sociais, políticas e, sobretudo, humanas, a arte pode e deve ser também um instrumento de transformação social. “Penso que a arte contemporânea pode ajudar na construção de novas memórias, falar sobre amor, justiça, cuidado…”, ressalta.
Na entrevista a seguir, concedida ao Portal Afro, Lia fala sobre estes e outros assuntos pouco abordados quando se trata de um tema ainda bastante elitizado no Brasil: a arte. Procurando entender qual poderia ser a função dos museus que, segundo ela, sempre tiveram como objetivo “estratificar e fetichizar a arte” Lia que também é trabalhadora sexual, acredita que a inclusão de pessoas de origens variadas (negras, de gêneros diversos etc.) veio para preencher uma lacuna institucional que havia e ainda há nos espaços destinados a apresentar as artes. Citando autores que corroboram seu pensamento que entrelaça questões como erotismo, relações sociais na sociedade contemporânea, transexualidade e identidade de gênero entre outros aspectos, Lia D Castro oferece uma abordagem da arte que vai além de suas próprias pinturas e inclui a complexidade da sociedade atual. Lembrando que a arte acontece, sobretudo, fora dos museus e está na vida, nas ruas, nos atos cotidianos mais simples, Lia tem buscado, através de seu trabalho, construir narrativas mais verdadeiras, significativas, e que sejam capazes de inserir vivências de pessoas que somente agora, conseguiram se ver representadas nas obras expostas em museus e galerias.
Por fim, termos como racismo estrutural, transfobia global e outros, ainda pouco presentes no universo artístico da maioria dos artistas brasileiros atuais, também são citados pela artista plástica. Assista a entrevista cedida ao Portal Afro: https://www.youtube.com/watch?v=jaU7w-gl-J0&t=5s