“O Dia Internacional da Felicidade, comemorado em todo o mundo no dia 20 de março, foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas no dia 28 de junho de 2012 e tem como objetivo fazer com que as pessoas percebam a importância da felicidade nas suas vidas. “ E a pergunta é: as mulheres percebem a importância de serem felizes? Um estudo divulgado pela Plan International apontou que 85,7% das meninas consideram que são felizes por serem meninas/mulheres, e enfatizam que o cotidiano envolve enfrentar barreiras, desafios e ter que se submeter a situações difíceis. Mas, será que na fase adulta o percentual se manteria o mesmo? E a qual a percepção de felicidade que temos?
Apesar dos notáveis avanços e conquistas, nós, mulheres, ainda enfrentamos situações que já deveriam ter ficado para trás. Para além do machismo, feminicídio e do patriarcado, há outras questões que precisam continuar em pauta, a falta de sororidade, por exemplo, é um problema que persiste entre as jovens garotas da geração Z. Ou seja, toda a luta feminista dos anos 1960 foi parar onde afinal de contas? Aqui precisamos lembrar que sem sororidade ainda estaríamos impedidas de votar, de abrir conta em banco, de usar calças compridas e por aí afora. Mas este debate precisa começar por algo escasso: a felicidade.
Quem defende esta abordagem é Sandra Teschner, especialista em felicidade que tem ministrado cursos no Brasil e no exterior sobre o assunto. Sandra traz dados preocupantes: de acordo com pesquisa recente, a felicidade das mulheres vem diminuindo nos últimos 30 anos e mulheres têm duas vezes mais chances de sofrer de depressão quando comparadas aos homens. Sandra também observa que “essencialmente, a felicidade é percebida de forma diferente entre os gêneros. Se por um lado, mulheres sentem mais intensamente as dores, também sentem alegrias e prazeres do mesmo modo”. Um indicador quase cômico detectado através de uma pesquisa britânica, ‘diz’ que os homens são mais felizes do que as mulheres por quase toda a vida, pois elas, segundo o mesmo estudo, só conseguiriam ser felizes após os 85 anos e a razão é bem simples: é que (segundo os psiquiatras) nesta idade já seriam viúvas e não estariam mais tão sobrecarregadas. Mas para além dos dados e indicadores, Sandra ressalta que a pesquisa não apresenta, é claro, um retrato fiel, pois a felicidade não pode ser mensurada focando somente em dados patológicos e/ou psicológicos. Ela também salienta que quando desenvolvemos a empatia e a sororidade, nos conectamos mutuamente com nossas dores e alegrias. “Juntas somos realmente mais fortes e esta capacidade de estar em conexão é mais acentuada entre nós, mulheres. A sororidade também expande nosso ‘lugar de fala’ para outros lugares”, destaca.
Sim, precisamos nos unir e praticar a sororidade, é claro, mas como manter o desejo de união quando dados sobre feminicídio aumentam a cada dia? Para se ter uma ideia, o Brasil ocupava a vergonhosa 7ª posição no ranking dos países que mais matam mulheres a até bem pouco tempo. Em relação a este dado, Catarina Coelho, desenvolvedora de negócios brasileira que criou a Rede Conexão Mulher, projeto que tem dado voz para empreendedoras do mundo inteiro, e atualmente mora em Portugal, opina da seguinte forma: “A percepção que tenho aqui na Europa, vendo mulheres brasileiras e africanas, por exemplo, é que o feminicídio não é preocupante quanto no Brasil. Contudo, esse assunto é bastante velado por aqui e não costuma ocupar as manchetes da grande imprensa. Algo positivo é que na Europa, assim como nos EUA, as mulheres se reúnem fortemente em comunidades como ‘comunidade das mulheres africanas’ ou das mulheres imigrantes, entre outras, e isso também forma uma rede de proteção e apoio”, salienta.
Sobre a vulnerabilidade das mulheres brasileiras, a empresária e palestrante, Kátia Teixeira, pode argumentar com conhecimento de causa. Criadora de vários projetos destinados à capacitação, apoio, estímulo e desenvolvimento de mulheres dos mais variados perfis, desde empresárias até mulheres que vivem em abrigos em razão da violência doméstica, Kátia trabalha há anos em torno de aspectos que orbitam ao redor das mulheres. Para ela, a falta de sororidade é um entrave ao desenvolvimento feminino. “Se as mulheres se apoiassem mais, se não praticassem o wollying que, para quem não sabe, é o bullying que existe somente entre mulheres, poderíamos estar numa situação menos preocupante. Isto porque mulheres que se apoiam, também se fortalecem, desenvolvem a autoestima e costumam ser mais seletivas em relação a tudo: desde o trabalho ao parceiro”, salienta. Como fundadora do Lions Club Sororidade Social, entidade que organiza vários eventos tanto para apoiar mulheres vulneráveis como estimular a sororidade e a solidariedade, Kátia acredita que comemorar o dia das mulheres com alegria e esperança, é também uma forma de lutar contra as causas da violência doméstica e dos demais males que afetam mulheres mundo afora. “Sem união e uma atitude sóror não vamos sair do lugar. Precisamos desenvolver a empatia, nos dar forças mutuamente e comemorar este dia com entusiasmo”, finaliza.
Fonte: IG Delas.