O empreendedorismo tem algumas raízes de existência, que são: vocação, vontade e necessidade. Vocação é quando você nasceu pra fazer aquilo; vontade é quando você quer fazer e necessidade, é quando você precisa fazer!
Mulheres naturalmente encontram barreiras no mercado de trabalho e os dados não mentem. Com base na pesquisa da FGV divulgada na CNN em março de 2022 vemos que mulheres estão 20% menos ativas no mercado de trabalho em relação aos homens e que essas mulheres ainda recebem um salário inferior, mesmo ocupando o mesmo cargo e função. Quando fazemos um recorte com pessoas negras, enxergamos um imenso abismo de desigualdade e falta de oportunidade, portanto é aí que entra a raíz de necessidade, de não ter outra opção a não ser fazer algo para ter seu próprio dinheiro, sem precisar de um emprego formal, já que a oportunidade não vem, nós a fazemos.
Você conhece alguma mulher negra, do seu convívio que seja empreendedora ou executiva de alguma empresa e ganhe um salário muito alto?
Isso se torna ainda mais latente quando a pessoa se depara com a maternidade, sendo 3 fatores negativos para o mercado: ser mulher, ser mãe e ser negra. Neste caso, vamos empreender.
Ter o próprio negócio implica no deboche de quem não entende o esforço para manter a essência de ser quem é e mesmo por necessidade dar o seu melhor e ser sim “CEO DE MEI”, e olha que algumas ainda não tem cadastro no portal MEI (micro empreendedor individual), por falta acesso, entendimento, medo ou simples falta de condições de pagamento de impostos, considerando casos que as pessoas fazem apenas para o próprio sustento e sobrevivência diária, não havendo possibilidade de gestão financeira. Tem muita empreendedora às margens do analfabetismo, lutando com brilho nos olhos, garra, força e necessidade. Muita necessidade!
Há quem diga que há cursos gratuitos na internet. Será que todos têm acesso, tempo, disponibilidade?
A desigualdade criou o empreendedorismo e não dá para negar que isso salvou famílias e mulheres em condições de violência doméstica. O que não muda é o fato de que para pessoas negras a realidade tem seus fatos cruéis.
Para contextualizar, vamos avaliar o andar de cabeça erguida, voz altiva, peito aberto, postura, “cabelo arrumado”, elegância e todo o combo exigido de Marketing Pessoal para mulheres de negócios. É isso que esperam de nós.
Agora, uma pergunta retórica, aquela que não exige resposta, apenas reflexão: você saberia dizer por que desde criança quando uma menina negra se “veste bem”, se posiciona, não abaixa a cabeça e não aceita ser colocada em lugar de subserviência é colocada como polêmica rebelde e outros adjetivos sinônimos?
“Quem você pensa que é?” Eles dirão.
E você responderá: EU NÃO PENSO, EU SOU UMA MULHER INCRÍVEL. Que não teve oportunidades, mas as fez, que não sabe o dia de amanhã, mas os cria, que não é apenas sonhadora, mas realizadora. Mesmo sem padrinhos, assessoria de imprensa, dinheiro, herança, eu não apenas penso, mas SOU alguém que pisa firme onde passa, conecta pessoas e fortalece negociações, que pode estar indo numa caminhada mais lenta, mas estou indo, porque cada um tem o seu processo, o meu é esse e vou deixando minhas marcas, histórias e vitórias pelo caminho. Como disse Eliane Dias no documentário do Racionais MC’s, “a senzala acabou”! Comecei por necessidade, descobri a vocação e vou seguir por vontade. Ninguém pode parar quem quer fazer acontecer. Eu quero e vou continuar fazendo.
Vai lá, mulher negra, brilhe! Não pense, seja! Aceitem ou não, você é luz e toda luz incomoda as trevas! E agora, quem você pensa que é?