Atuando hoje como palestrante internacional, a advogada descobriu, após uma grande tristeza, um novo caminho profissional que a encanta e estimula
A advogada carioca, Mara Catarina, depois de 42 anos trabalhando na área criminal e acadêmica, se reinventou e deu novo sentido à sua vida ao atuar como palestrante. Segundo ela, que hoje mora em Portugal, esta ‘reinvenção’ também trouxe mais ‘alegria e poesia’ ao seu cotidiano. Mara, que também se define como uma ‘eterna aprendiz’, acredita que esta qualidade tem um caráter ‘imortal’.
Prestes a defender seu mestrado na Universidade de Lisboa, ela tem celebrado através de suas palestras, esta nova fase. “Sou advogada criminal há mais de 40 anos, hoje atuo como palestrante internacional e também sou empresária. Me vejo como uma pessoa que faz acontecer, que pode, por exemplo, servir um cafezinho e, instantes depois, faz uma palestra incrível sobre alguma questão jurídica complexa”, afirma. Mãe de dois filhos, Alaor Carlos e Noêmia, e avó de Téo; aos 64 anos, Mara salienta que “é uma pessoa que está sempre em condição de aprendizado e buscando formas de apoiar outros que necessitam, não importa em quais condições estejam”. É que em sua história de vida, a advogada também passou por momentos difíceis: “Aos 11 anos, com a falência do meu pai, já comecei a trabalhar e me tornei, mais tarde, arrimo de família.
Na época da faculdade, passei na Universidade Federal Fluminense, cursei Direito, me tornei advogada, mas como não consegui trabalho no Rio, prestei concursos no Paraná, passei e me mudei para lá, indo trabalhar como advogada da Universidade Estadual de Maringá. Lá trabalhei com o poder executivo estadual e fui professora da mesma universidade”, destaca. Mara conta que viveu toda sua vida profissional conquistando todo sucesso que poderia almejar. Ela também ressalta que foi a única mulher a gerir o sistema prisional do Paraná até hoje e que este trabalho fez muita diferença em sua trajetória. “Acredito que galguei esta posição por competência, apesar de ser um cargo majoritariamente masculino. Eu não acredito muito na chamada ‘guerra dos sexos’ e, sim, no meu poder de fazer, de criar, na minha capacidade profissional a despeito de questões como gênero ou raça”, observa. Mara também afirma que no começo da carreira sempre priorizou a profissão e no Paraná encontrou a estabilidade que tanto desejava. “Foi lá que também vivi situações marcantes, pois encontrei o amor da minha vida, me casei, tive meus filhos e dessa forma a vida foi correndo. Depois, vivi uma grande tristeza, pois perdi meu marido de forma trágica, por uma doença degenerativa, e isto foi um tremendo baque”, revela. Mas se este episódio foi traumático, foi também o começo de uma mudança profunda, como ressalta: “Com a morte do meu marido, tive que me reinventar, fui buscar aquele sonho que eu ainda não havia realizado e descobri que este sonho era fazer um mestrado. E foi ali, naquele momento em que estava muito triste, no fundo do poço, que percebi que precisava fazer algo que me trouxesse de volta à vida, não só por mim, como também pela minha família”, diz.
Com este desejo, Mara decidiu, em 2017, fazer o sonhado mestrado em Lisboa e conta que se ‘ apaixonou pelo país’. “Vim morar definitivamente em Portugal, vou defender minha tese ainda este ano, hoje sou empresária, empreendedora, continuo sendo advogada e também sou palestrante internacional”, afirma. Mara acredita que, como todos, viveu os altos e baixos de uma vida na qual havia uma “carga emocional e física muito pesada” por conta da profissão. Ao refletir sobre o sonho que desejava realizar, ela percebeu que precisava “ conquistar uma vida mais leve, deixar as bagagens pesadas, aprender a dizer não e não querer controlar tudo e todos”, conforme salienta. “Aqui em Portugal eu conquistei uma leveza e encontrei um jeito de ser mais gentil comigo mesma. Hoje compartilho minhas experiências pessoais através das palestras para que as pessoas vejam que, apesar de todos os percalços, é possível ir atrás dos sonhos em qualquer tempo. Hoje tenho maturidade, sou quase uma idosa, mas me sinto como uma jovem que descobre em cada detalhe, um caminho novo. Lisboa me trouxe mais poesia, mais alegria e a certeza de que estarei sempre com este desejo de ser uma eterna aprendiz. E isto me dá uma sensação de imortalidade, de recomeço constante, pois o desejo de aprender permite que sejamos imortais”, conclui.