Quando se pensa em mulheres comandando empresas, diversos clichês costumam surgir. Pois a empresária Carol Paiffer conseguiu ‘fugir’ de todos eles e tem construído uma trajetória original neste, predominantemente masculino, ‘mundo’ dos negócios. Formada em administração de empresas, Carol é presidente e diretora da área de investimentos da Atom S.A., empresa que atua no relacionamento com os investidores e foi fundada por ela e por seu irmão, Joaquim Paiffer. Com 35 anos e trabalhando nesta área desde 2005, de forma disciplinada e persistente, ela tem opiniões que destoam de todos os estigmas. Maratonista, praticante de hipismo e ciclismo, Carol conta que esse dinamismo a acompanha desde menina. “Sempre fui animada, saía de casa cedo e voltava só no final do dia, além da escola tradicional, fazia piano, idiomas, ginástica olímpica, teatro… Tinha uma agenda lotada”. Como a mãe sempre trabalhou fora, Carol conta que, desde cedo, gostava de ‘brincar de trabalhar’ já revelando, na época, seu ‘lado empreendedor’ quando, aos 8 anos, fez uma horta (ao lado do irmão que, hoje, é seu sócio) e vendeu as hortaliças ali mesmo na rua em que morava. Isto também explica porque, segundo ela, ‘não teve que aprender a empreender e, sim, a fazer gestão’. “Cresci vendo todos trabalhando, minha mãe, meu pai, e cedo percebi que trabalhando poderia ganhar meu dinheiro, seria remunerada. Meu pai também incentivava isto e nos presenteou com cofrinhos, estimulando que a gente aprendesse a poupar”, recorda. Na adolescência, a fase da escolha profissional, Carol que costumava ajudar a mãe em sua confecção, trabalhando como vendedora e em outras funções; achou que queria estudar moda. “Mas eu não queria ser estilista e, sim, ter uma empresa que atuasse nesse ramo da moda, por isso, ao invés de estudar moda, resolvi cursar administração de empresas porque comecei a observar o quanto as pessoas ‘apanhavam’ por não saberem gerenciar seus negócios”, argumenta. “Sempre convivi com o empreendedorismo vendo meu pai e minha mãe trabalhando, mas minha mãe empreendeu por necessidade e foi fazendo escolhas conforme as opções que surgiam, por isso, percebi que aprender a gerenciar seria uma opção mais adequada ao que eu queria”, destaca.
O começo
Foi no primeiro ano da faculdade que ela conheceu a bolsa de valores e gostou da área. “Na época eu tinha passado em um processo seletivo da Unilever e fiquei em dúvida sobre empreender no mercado financeiro ou trabalhar em uma empresa. Acho que a ‘sorte’ foi me levando para a primeira opção”, afirma. Sobre este começo, Carol conta que como o irmão já trabalhava na área e conhecia bem o setor, ela se interessou e começou a perceber que o ‘mundo’ dos investimentos não era tão complicado quanto parecia. “Embora estivesse em dúvida ainda sobre empreender, pensei, tenho 17 anos, se der errado, posso voltar e escolher outro caminho”, lembra. Neste ponto, Carol ‘manda’ um recado para os empreendedores: “Muitas pessoas querem empreender, estão trabalhando em empresas, mas tem esse desejo. Penso o seguinte: se esta for uma opção muito arriscada para você, se estiver em dúvida, porque não empreender com o CNPJ do outro? Porque não apostar em uma franquia, por exemplo? Se você tem a chance de empreender com a expertise de outro é bem mais inteligente optar por isso, porque ao trabalhar para desenvolver outro negócio, você vai atuar dentro de um processo já existente e os riscos serão, é claro, menores. Outro ponto: se você hoje, está trabalhando, mas quer empreender, comece a observar seu contexto atual e se pergunte, o que você faria se o negócio fosse seu? Aguce seu lado empreendedor”, sugere. Carol lembra ainda que o seu aguçado lado empreendedor, construído no âmbito familiar, tem a ver com o fato de que sempre foi ambiciosa: “Eu sempre quis coisas boas, estudar fora do país, por exemplo, viajar, conhecer outras culturas, então, sabia que para ter isso tinha que ser uma pessoa determinada. Outra coisa é que sempre achei que quando uma mulher tem independência financeira, ninguém a segura! Não é à toa que mulheres que estão em relacionamentos abusivos, em geral, estão ali porque não tem autonomia financeira”, observa.
Trabalhar em família: um problema?
Mas como é empreender em família, este núcleo por vezes tão complicado? “Olha, eu cresci em uma família que estimulava a união, sempre almoçamos juntos e meus pais faziam questão disso. Por isso, trabalhar com meu irmão foi uma opção natural, confiamos um no outro, há muito respeito entre nós. Eu tenho habilidades para certas tarefas e ele tem para outras, assim criamos um equilibro sem o qual a empresa não teria dado certo. No final das contas o que importa em uma empresa são os resultados obtidos, é isto que está em jogo. As vitorias e fracassos também não podem ser méritos só de um ou de outro, temos essa consciência. Eu e meu irmão tivemos boas e más ideias, temos esta compreensão e, por isso, nossa parceria tem dado certo. Hoje temos um terceiro sócio dentro da Atom que também equilibra os processos internos”, revela. Carol também acredita que o maior desafio de trabalhar em família é ‘equilibrar o ego’: “Acho que buscar o equilíbrio nesta parte é fundamental, saber que há momentos em que o que eu gostaria não pode ser feito, que devo ouvir a outra parte, colocar o ego em segundo plano, às vezes, é preciso”, lembra.
E como é ser uma mulher de negócios em uma sociedade ainda tão machista na qual a parte estética parece valer mais do que o conhecimento? “Sou uma pessoa vaidosa, gosto de me arrumar e de manter a feminilidade. Tenho uma agenda com horários definidos e isso também me ajuda a gerenciar este lado, pois sei que preciso me maquiar, que preciso de um tempo para isto. Mas nunca quis chamar a atenção pela beleza física, sempre quis me destacar pelo conhecimento e, desde o começo, percebi que as pessoas me respeitavam mais em razão disso,”, observa.
Em sua trajetória, Carol conseguiu manter os dois lados e se tornou uma mulher bem sucedida em sua área sem perder a feminilidade e a delicadeza. “Lembro que no começo, quando participava de reuniões com meu irmão, esperavam mais dele do que de mim, no sentido do conhecimento… E eu achava isso bom porque havia me preparado, mas sabia que os holofotes não estariam sobre mim, assim, quando falava algo, surpreendia a todos. Hoje acredito que me tornei mais prática e séria, inclusive, no modo de me vestir”, recorda. Sobre a velha ‘guerra dos sexos’ em matéria de negócios e o fato de que as mulheres não entendem e nem se interessam pelo ‘mundo’ dos investimentos, deixando isto para os homens, Carol diz acreditar que esta crença precisa de tempo para mudar. “Em relação aos negócios, os homens são mais impulsivos e imediatistas, as mulheres são mais tímidas e conservadoras. Penso o seguinte: se as mulheres perdessem este ‘medo’ veriam que não é tão complicado como pensam. Se uma mulher entende de dinheiro, empreendedorismo e política, pronto, muda um país! Quando comecei a entender como a bolsa de valores funcionava e vi que não era tão complicado, continuei buscando saber cada vez mais e quis justamente que mais mulheres soubessem disso. Quando comecei somente 5% dos investimentos eram feitos por mulheres, hoje já são 27%”, comenta.
Ícone? Não!
Vale lembrar que Carol começou sua jornada aos 17 anos e de lá para cá foram muitos cursos, pois sua busca por aprimorar este conhecimento não cessa. Perguntada se é considerada um ‘ícone’, ‘um exemplo’, Carol é categórica: “Toda pessoa pública é vista como exemplo ou ‘modelo’ e isto também gera uma responsabilidade enorme. Não quero ser vista como exemplo, quero viver bem a minha vida, somente isso. Entendo que posso criar esta imagem exemplar, mas não tenho esta obrigação. Sou muito ciente de que o conteúdo que divulgo deve ter uma verdade, que tudo deve ser embasado por conhecimento, mas o que quero é que através dele, as pessoas vejam que são capazes de também buscarem esta compreensão maior do ‘mundo’ dos negócios, dos investimentos. Tento mostrar que investir é para todos, provoco as pessoas para que percam o medo de investir e gostem de saber mais sobre esta área, principalmente, as mulheres”, afirma.
Hoje Carol acumula experiência suficiente não só como empresária do ‘universo’ do day trade, área que, para quem não sabe, se relaciona a comprar e vender ativos no mesmo dia; como também investe em educação e oferece cursos sobre a área para iniciantes. Ela também é ‘apaixonada’ pelas ferramentas digitais que possibilitaram, segundo ela, “que eu fizesse mais cursos e palestras em escala maior, com um alcance inimaginável. O digital resolveu boa parte dos processos que envolvem a criação e divulgação dos cursos, além de ajudar nos resultados que quero ter”, salienta. Sobre pessoas que reclamam da falta de resultados do ‘digital’, ela observa que antes de sair publicando em todas as mídias, é preciso planejamento e foco no resultado que se deseja obter. “É importante que a pessoa entenda porque aquela ferramenta digital é importante e onde quer chegar ao utilizá-la, é importante definir isto”, reforça.
Atualmente à frente do programa Shark Tank Brasil, um reality show de empreendedorismo exibido pelo canal Sony desde 2016, Carol também se tornou mais conhecida em todo país, mas isto não mudou sua identidade, algo, segundo ela, importante quando se busca um sentido na vida para além das conquistas profissionais e do dinheiro. “Acho que todos nós devemos nos perguntar sempre: será que estou sendo quem, de fato, sou ou gostaria de ser? Pois isto influencia nossa identidade profissional e altera o modo como nos relacionamos. Acho importante manter conexões familiares, com amigos de épocas diversas, infância, adolescência etc., porque isto nos ajuda a achar um equilíbrio no meio das pressões diárias. Além do mais, quem te conhece de verdade são estas pessoas”, observa. “No final das contas, o trabalho deve nos proporcionar dinheiro, é claro, mas também prazer e orgulho do que fazemos”, conclui.
Antes de terminar, perguntamos para a Carol se ela poderia dar algumas dicas de empreendedorismo para as leitoras da Revista Conecta e ela resumiu tais dicas aqui: “Se você empreende precisa entender que o ‘pitch de vendas’ é um ‘xaveco’, uma maneira de conquistar investimentos para seu negócio, então é algo muito importante que deve gerar curiosidade. Por isso você deve se preparar para falar da sua empresa mostrando que tem conhecimento amplo do ramo em que atua, que sabe números e dados do setor, mas isso, sem arrogância e deixando claro que você está ali com humildade, como alguém que entende do assunto e está em busca de apoio para desenvolver seu negócio. Ah, e o brilho nos olhos ao falar da sua empresa também é essencial. A arte da negociação começa sempre pela empatia”, finaliza.